segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Italo Zappa - O DIPLOMATA


Franzino, 1,60 metro, permanentes 60 quilos, o embaixador Italo Zappa era um diplomata diferente: jamais comparecia a recepções no Itamaraty. A um amigo curioso explicou: "A primeira vez que vesti um smoking, outro convidado colocou a mão no meu ombro e pediu: um uísque só com gelo, por favor. Eu tenho cara de garçom". Com essa aparência declaradamente modesta, Zappa foi o mais brilhante, criativo e independente diplomata que a Casa de Rio Branco viu. Monástico, mudava-se de um país para outro com apenas duas malas. Nelas arrumava dois ternos escuros, duas calças jeans, uma máquina de café expresso, outra de fazer espaguete e alguns livros. Foi arquiteto e pedreiro: imaginava em grandes linhas a política externa brasileira e não recuava quando convocado a arregaçar as mangas para materializar os projetos, nos quais acreditava apaixonadamente.
Assim foi quando o presidente Ernesto Geisel assinou o decreto removendo-o para Moçambique. Fez questão de ouvir do próprio Zappa seu desejo de servir na África. "É uma questão de coerência, presidente. Se o seu governo promoveu a abertura diplomática para a África, é preciso que embaixadores queiram lá servir." Geisel balançou a cabeça e assinou a remoção. Zappa foi expedicionário nesse aspecto. Viajou secretamente ao coração do continente africano, onde se encontrou com os líderes da luta contra os colonialistas portugueses. A Agostinho Neto, de Angola, e Samora Machel, de Moçambique, garantiu o apoio brasileiro no primeiro momento. E assim aconteceu. Um fato inédito na História: a Comissão de Relações Exteriores do Senado aprovou sua indicação por unanimidade, sem nenhuma abstenção. Nos corredores, diplomatas suspiraram aliviados: sobraria um posto no roteiro Elizabeth Arden, como é chamado o circuito de embaixadas de Paris, Roma, Londres e Nova York. Aliviados ficaram também os exilados políticos brasileiros em Moçambique. A primeira missão de Zappa foi sair em busca dos desterrados, distribuindo passaportes, registrando filhos e oficializando casamentos. Aos agradecimentos, respondia: "É um direito constitucional". Nunca ninguém ousou repreendê-lo.
Passados quatro anos, o chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro chamou-o a Brasília. Perguntou para onde ele queria ir. "Manágua", ouviu de volta. "Para lá eu não lhe mando. Aí mesmo é que vão dizer que você é comunista." Belgrado foi sua segunda opção, por prever grandes confusões na Iugoslávia de então, com a morte de Tito. Também não levou. Despediu-se, então, entrou de licença e exilou-se no pequeno apartamento do Baixo Leblon, região boêmia do Rio.
Presentes doados Nenhum chanceler, no entanto, podia dar-se ao luxo de não ter Zappa na linha de frente. Guerreiro convocou-o novamente a Brasília e convidou-o para um desafio: assumir a embaixada em Pequim. O próprio Zappa havia costurado o reatamento das relações diplomáticas com a China, quando chefiava a então obscura Divisão de África, Ásia e Oceania. "Não era possível manter dois países como China e Brasil, com tantos interesses em comum, afastados." Zappa costumava esboçar o mundo no papel e escurecer as zonas com as quais o Brasil mantinha relações: Europa e Américas. "Somos o Ministério das Não-Relações Exteriores", ironizava. Na China fez o comércio bilateral saltar de míseros milhares de dólares para bilhões. Fez brotar parcerias em petróleo e no campo espacial. Trocou os três Mercedes da embaixada por um microônibus Nissan. "Cabe mais gente e ninguém fica aborrecido por não ter viajado no carro do embaixador", explicava, pragmático. Esse Marco Polo da diplomacia brasileira nunca trouxe para casa pedras ou especiarias: presentes eram doados para o patrimônio da embaixada.
Reabrir a embaixada em Cuba foi a tarefa seguinte do desbravador diplomático, que não escondia suas simpatias. "Cada país constrói seu caminho", frisava, segurando entre os dedos amarelecidos o companheiro inseparável, cigarros japoneses de baixíssimos teores. Com Fidel Castro, previsivelmente, foi admiração mútua à primeira vista. Eram freqüentes as visitas do líder cubano. Sempre de madrugada. As conversas rolavam até na cozinha, com Zappa preparando espaguete e Fidel ajudando. Ao deixar Cuba, foi agraciado com a maior condecoração já dada a um estrangeiro. E trouxe Fidel ao Brasil, em visita oficial.
Único patrimônio Ainda em Havana, Zappa já preparava o caminho para as relações diplomáticas com o Vietnã. Acabou convidado a assumir a embaixada em Hanói. Foi. Ele jamais deixara de enfrentar um desafio, quanto mais os que ele próprio criava. Nas conferências internacionais, diplomatas americanos arrepiavam-se quando viam aquele brasileiro do outro lado. Sabiam que teriam trabalho pela frente. Profundo conhecedor do idioma inglês, Zappa, nas comissões de redação dos documentos finais, não deixava passar nenhuma expressão dúbia que eventualmente pudesse fazer a balança pender para o lado americano.
Já doente, com um câncer no fígado, Zappa batalhava para continuar abrindo o Brasil para o mundo. Veio a São Paulo, operou-se e reassumiu o posto. Regressou quatro meses depois para um check-up, não conseguiu permissão médica para retornar. Recolheu-se ao Baixo Leblon, ao lado da mulher, Diana, para lutar pelo que lhe restava de vida, sempre com a cocker spaniel "Shima", presente de Fidel. Os vietnamitas ofereceram-lhe tratamentos orientais. Fidel mandou emissários para convencê-lo a se tratar em Havana. Zappa morreu no dia 4, de complicações respiratórias, e deixa quatro filhos, Sérgio, Regina, Cristina e Ana, seu único patrimônio. Nascido em Paola, na Calábria, em 1926, Zappa foi criado em Barra do Piraí, no Vale do Paraíba, onde foi enterrado.

Revista Veja, 12/11/1997.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A questão da Reforma Agrária no Brasil


Relatório sobre “Assentamento 14 de Agosto”
Reforma Agrária como política pública eficiente para a desigualdade de terras

O Brasil padece com a desigualdade social desde que era colônia de Portugal. Nossos desbravadores legaram às gerações futuras não só a língua, os costumes, os valores (advindos do cristianismo), a culinária, enfim toda a sua cultura, como também nos mostraram como aquele que está no poder subjuga os mais fracos, pilhando as suas riquezas e ainda por cima, fazendo com que os verdadeiros donos da terra – os índios – servissem de escravos tirando da natureza o ouro, a madeira e os produtos tropicais.
Apesar de assistir por décadas várias revoluções tais como a russa e a chinesa, além da Zapatista no México, o Brasil não teve forças para revolucionar e impulsionar os primeiros passos para a reforma agrária e assim, colocar um fim às desigualdades de terras.
Sem embargo, com o passar dos anos a questão da reforma agrária foi tomando corpo e em 1962, foi criada a SUPRA (Superintendência de Política Agrária) que tinha como função à execução da reforma agrária.
Já em 1964 quando finalmente o Presidente da República João Goulart, o Jango, mobilizava-se frente à questão da reforma agrária, um golpe paralisou todas as esperanças daqueles que lutavam pela posse da terra. Era o golpe militar que duraria 21 anos. No entanto, o governo dos militares não ficou indiferente à questão e colocou a reforma agrária na pauta de suas prioridades. Rapidamente criou-se a lei 4.504 em 30 de novembro de 1964, que tratava do Estatuto da Terra. Porém, ao invés de dividir as terras promoveu a modernização dos latifúndios, criando um crédito rural abundante e subsidiado a fim de gerar um estímulo à cultura da soja que precisava de enormes terrenos para cultivo e incorporava as pequenas propriedades às médias e às grandes. Essa época do Brasil conhecido como “Milagre Brasileiro” fez com que o país rapidamente se urbanizasse e desse um grande salto na industrialização, mas sem qualquer desenvolvimento a democratização da terra.
Em 1985, o então presidente José Sarney elabora um plano ambicioso: assentar cerca de um milhão e 400 mil famílias em cinco anos, o que se mostraria claramente impossível e no final do prazo estipulado verificou-se que apenas noventa mil famílias foram assentadas.
Com a proposta de não vender ilusões à sociedade, o Governo de Fernando Henrique Cardoso assentou mais de um milhão e duzentas mil famílias de trabalhadores rurais sem terra, o maior número já registrado na história do país, de acordo com dados do INCRA, o que é veemente contestado pelo governo Lula e pelo Projeto Dataluta.
O grande desafio para os assentados hoje é garantir a viabilidade econômica do assentamento, pois não é necessário apenas distribuir terras, mas também assegurar programas e ações articuladas de diversos órgãos, Ministérios, Instituições Públicas a fim de promover a sobrevivência dos assentados, com crédito subsidiado para as lavouras e para a construção das moradias, estradas, creches, postos de saúde, escolas etc.
Em conversa durante a nossa estada no Assentamento “14 de agosto”, Idalice Rodrigues Nunes, Coordenadora Estadual do Movimento, apresentou-nos o Assentamento que foi fruto da primeira manifestação do movimento sem terra no Estado de Mato Grosso ocorrido no dia 14 de agosto de 1995. Possui setenta e uma famílias e três tipos de organização, sendo a Associação, o grupo de mulheres que trabalham com a fibra da banana e a Cooperativa, que nasceu junto com o acampamento. Assim, um grupo de doze famílias decidiu que iria trabalhar de forma coletiva. Começou-se, então, a desenvolver as primeiras lavouras e nesse trabalho coletivo, criou-se a Cooperativa Canudos, nome em homenagem a Antonio Conselheiro.
Durante estes doze anos de assentamento, explica Idalice, muitas pessoas não se adaptaram ao esquema de cooperativa e não foram obrigadas a ficar e hoje apenas cinco famílias trabalham na Cooperativa, com a mesma qualidade e quantidade da produção anterior.
Para eles, homens e mulheres têm os mesmos direitos e deveres. Trabalham da mesma maneira e recebem pela quantidade de horas trabalhadas. Organizam-se em cinco setores: leite e animais em geral; roçado, o plantio do arroz e verduras; setor da agroindústria, que organiza tanto a questão da matéria prima quanto à execução dos trabalhos; a administração que cuida da parte burocrática do movimento e o setor de turismo, que desenvolve o turismo rural, criado por um grupo de jovens que tinha como objetivo: divulgar a questão da reforma agrária e ganhar dinheiro.
“O MST sempre recebeu muita visita aqui, muitos amigos, conhecidos, turistas, mas nunca foi cobrado nada, era tudo por nossa conta e percebemos que não teríamos como arcar com as despesas. Criamos então o projeto ‘Na trilha dos alimentos’, onde é oferecido um café da manhã, com todos os produtos rústicos e depois os turistas fazem uma trilha pela roça onde os trabalhadores rurais mostram toda a produção. O pessoal vem conhecer tudo o que estamos organizando. Depois tem o almoço, o lanche da tarde e voltam para casa”, explica Idalice. Este tipo de projeto é único no Mato Grosso e fora do Estado, somente São Paulo e o Sul possuem um projeto de mesma similitude.
“Durante o período de ocupação os valores são coletivos, mas a partir do momento que eles tomam posse da terra, que deixa de ser coletivo, as coisas mudam”,explica ela, mas eles não têm problemas em relação às outras famílias.Segundo nos informa, este assentamento é bastante produtivo e de ótima localização. Cerca de oitenta por cento do que é vendido na feira sai dos assentamentos de Campo Verde, mesmo assim o “14 de Agosto” é mais produtivo ainda.
A associação representa todos os assentados, mesmo tendo muita limitação no sentido de se reunir para o debate e deliberar sobre as questões do assentamento, como problemas na estrada e no acesso, por exemplo. Mesmo com todas as dificuldades, ainda assim os líderes conseguem reunir os assentados, mesmo os que estão fora da associação, pois segundo eles, “as pessoas precisam de algum tipo de associação que os represente”.
Outro líder do assentamento, Manoel, lembra que a organização depende muito da pessoa, pois há os que vão para a organização, fazem a marcha e participam, mas só pensam em obter a terra. Depois que conseguem, abandonam o movimento. Ele diz: “Cada um tem um horizonte que desenha na vida. O movimento é muito democrático neste sentido, ninguém é obrigado a participar. Tem gente que pega o lote e vende.”
Quanto à questão da saída de integrantes do movimento, esta é uma situação muito complexa que foge da vontade de seus líderes, pois os mesmos entendem que mesmo depois de conquistado este direito, ainda existem outros que dormem embaixo de barracas improvisadas de lonas à beira de estradas e que precisam da unidade do Movimento, que precisam da ajuda daqueles que já conquistaram este direito. A luta continua, mas infelizmente não é assim que muitos pensam.
“O que a gente tem avaliado na conjuntura social hoje e isso tem a ver com o governo Lula na linguagem mais política, nós vivemos num descenso de massa. Vivíamos no momento de um ascenso de massa, tinha uns 10 sindicatos, movimentos estudantis etc, o fato é que muita gente tinha como horizonte que o Lula chegando ao poder tudo ia ficar melhor. O governo na nossa avaliação tem tomado uma posição clara. Existem dois projetos: um é o modelo do agronegócio exportador e existe um outro modelo de produção que é a produção familiar. Quando a gente viu o censo de 2000, percebemos de que lado o governo está apoiando. O governo apesar das políticas sociais (...) nós não temos dúvida de que o governo tem uma posição de apoiar o agronegócio, que ele iria atualizar o censo em abril mas não atualizou.” Essa percepção do Movimento gerou uma outra mobilização que tinha como objetivo recolocar na pauta do governo a questão da reforma agrária no país. Segundo Manoel, o governo teria que fazer a atualização dos núcleos de produtividade a cada cinco anos conforme reza a Constituição Federal.
Como era de se esperar surgiu uma reação do governo que foi a encomenda de uma pesquisa com o Ibope, realizada em dois assentamentos. Antes disso, segundo nos informa Manoel, saiu a ideia da atualização dos juros e os dados do IBGE que constataram que cerca de setenta e quatro por cento das pessoas que vivem do trabalho da produção de alimentos vêm da agricultura familiar, que ocupa e emprega outros setenta e cinco por cento de mão de obra e mais, oitenta e quatro por cento da produção do leite também vem da agricultura familiar.
Outra questão que foi abordada no acampamento foi à questão da violência no campo, a derrubada dos pés de laranja da Cutrale em São Paulo, bem como o incêndio nas casas de outros trabalhadores rurais. Quanto a esta questão, a liderança em Mato Grosso garante que não é uma prática aceita pelo movimento. Há muitas questões que são mostradas de forma distorcida pela grande mídia com a finalidade de desmoralizar o movimento. Neste caso, Idalice explica: “Temos que pensar que 20 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil e a Globo não mostra. Saiu o censo, a pesquisa do IBGE de que 70% dos assentamentos passam fome e tentaram fazer outra CPI, sendo que já tinha duas. O que aconteceu? Aconteceu a história da Cutrale. De fato, ao assentados quebraram os pés de laranja, pois tem terras do governo sendo ocupadas pela multinacional para ganhar dinheiro e nós queremos produzir alimentos. De fato aconteceu. O que a Globo fez? Fizeram as imagens, esperaram o momento para sair junto com a historia da CPI. Não é da prática do movimento destruir propriedade, tratores ou casas. Os funcionários que trabalham nas fazendas, a gente trata como “companheiros” até onde eles queiram, mas a gente nunca usa de violência contra os trabalhadores das fazendas. Uma fazenda daquele tamanho, imagina o tamanho da oficina que existe naquela fazenda. Aquilo tudo era trator que estava na oficina já quebrado. Como que trezentas pessoas iam sair com 15 mil litros de óleo com a Polícia cercando o tempo todo? A própria empresa deu o caminhão para tirar os sem terra de lá de dentro. Como iríamos sair com 15 mil litros de óleo de lá? São coisas absurdas que são colocadas e que não tem sentido para as pessoas com o mínimo de consciência, acreditar nisso. A questão agora do Pará, conhecendo o movimento, eu tenho certeza de que não foi o movimento que fez isso. Nós não queremos destruir o que já está construído porque vamos usar como casa. É luta de classe e a Globo sabe como fazer as coisas.”
O Movimento também tem todo um trabalho no que concerne à educação de suas crianças. Eles explicam que as crianças participam de todas as atividades que elas puderem e que há o projeto “Sem terrinha” que tem uma proposta diferenciada na questão do movimento e também possuem a Ciranda Infantil que cuida das crianças durante os Encontros Estaduais.
Chegamos a um ponto da conversa onde todos ficaram muito interessados, que foi a questão do “companheiro Lula”. Uma das colegas perguntou à liderança estadual se o Presidente ainda seria um companheiro, termo muito utilizado por quem integra as militâncias sociais. Com a palavra, Manoel: “Lula deixou de ser companheiro há muito tempo. Em relação à reforma agrária e a luta pela terra, ele deixou a desejar. Há muito tempo o Movimento Sem Terra não trata o Lula como companheiro. Falando enquanto militante do movimento, nós não estamos em decadência. Faz parte do contexto da luta pela reforma agrária, pelo socialismo, pela educação, estávamos no ascenso de massa, hoje estamos no descenso.” Idalice completa: “Aqui no Estado, as lutas estaduais, estivemos no Incra onze vezes este ano, ficando até 40 dias, fazendo o revezamento. Em relação à massa sim, o movimento está enfraquecido. Achávamos que o Lula ia resolver o problema da terra. Mas não foi isso que aconteceu.”
Para finalizar, Idalice nos conta que o Movimento hoje passa por um balanço crítico, com os olhos voltados para o próximo período, se preparando para os próximos vinte e cinco anos, com os pés no chão. Segundo ela, o próximo período vai exigir demais da militância e eles não querem ser mais um na história deste país. Vamos lutar por aqueles que ainda não conseguiram seu pedaço de terra para plantar. A luta não terminou.

Conclusão


Depois de tantos anos que se discute a questão da distribuição de terras devolutas neste país, ainda temos várias famílias vivendo de forma subumana à beira de estradas e rodovias a espera de uma solução para que os latifúndios que não cumprem a sua função social sejam desapropriados, conforme ordena o artigo 184 da Constituição Federal de 1988.
A atual crise econômica foi a grande responsável pela demissão massiva ocorrida no setor do agronegócio, dificultando ainda mais a vida do trabalhador rural que já era escravizado e mal pago com baixos salários e levando mais famílias à beira das estradas em acampamentos improvisados, dormindo embaixo de lonas.
Assim, o MST – Movimento dos trabalhadores rurais sem-terra, acredita que a única saída para esta crise é a reforma agrária, uma política pública eficiente que gera emprego e renda no campo e ainda vê com bons olhos o incentivo que o governo Lula diz querer dar à agricultura familiar a fim de erradicar a fome. Um dado curioso concerne à opinião de assentados quanto à atuação do governo Lula.
Em nossa visita ao Assentamento “14 de agosto” em Campo Verde, MT, tivemos a oportunidade de conversar com filhos de assentados, bem como com a liderança do Movimento na região. O Assentamento nasceu em 14 de agosto de 1995, com setenta e uma famílias assentadas pelo Movimento, cada uma com vinte e cinco hectares de terra. Hoje, infelizmente, só restam cinco famílias que participam do Movimento e permanecem na região. De acordo com Manuel, líder do MST em Campo Verde, o Movimento não tem como segurar as pessoas dentro desta ideologia legítima, que luta pela redistribuição de terras. Muitos aderem ao Movimento só para conseguir seus lotes, mas depois abandonam a causa, já que conseguiram o terreno para si. Conhecemos o Mercado Municipal onde os cooperados vendem a sua produção diretamente ao consumidor. A Cooperativa Agropecuária de Canudos que nasceu com o Assentamento e nela trabalham todos os produtores da Reforma Agrária.
A seguir uma transcrição "ipsis litteris" da nossa entrevista com dois filhos de assentados e produtores rurais, jovens estudantes que demonstram que, ao contrário do que a mídia nos coloca, eles têm muito conhecimento técnico e da sua própria causa. Demonstram, na minha opinião, uma clareza de ideias e consciência política bem diferente da postura subversiva, na sua concepção negativa e pejorativa do termo.
Josemar Moreira da Silva e Edicácio Rufino de Souza aceitaram conversar sobre a vida deles e o futuro do Movimento.

Josemar Moreira da Silva – 21 anos – Estudante
1. O que é propriedade para você?
Propriedade é vida, é o lugar onde você tira o sustento, onde a minha família vive e onde quero viver até o fim da minha vida.
2.O que você acha do governo Lula?
Acho bom, mas não está sendo bom para o movimento. Ele tem suas qualidades, mas não tenho fé de que vai fazer alguma coisa pela reforma agrária.
3.Qual o futuro do MST?
Vai ser promissor, ele já teve seu auge, agora vive em decadência. Na minha opinião os integrantes de hoje não levam a coisa com o coração.
4.Como você vê a educação das crianças dentro do movimento?
Eu acho bom, o MST visa tanto o lado do conhecimento como o lado histórico. Uma criança que viveu no meio rural, tem todo um passado que o MST tenta resgatar, ao mesmo tempo tenta dar um maior conhecimento aos filhos dos integrantes.
5. Você faz parte da cooperativa?
A cooperativa era 12 lotes juntos, conforme as pessoas iam saindo iam vendendo seus lotes, hoje tudo o que produzo é nosso, desvinculado da cooperativa.
6. E na Associação, vocês estão presentes na luta do MST?
Não. O interessante era ter a terra, agora que conseguimos meu pai está sossegado. O pai já não conseguiria viver na cidade, ao contrário de mim que estudo e já não me apego tanto às questões da terra. O preconceito da população das grandes cidades ainda incomoda e eu tento explicar as pessoas que a história não é bem essa, que as coisas não são perfeitas, mas também não são assim como pensam.

Edicácio Rufino de Souza – Estudante de Agronomia
Filho de assentado, hoje é a segunda geração da fazenda.
1.Qual é o conceito de propriedade pra você?
Não somos cooperados e nos baseamos no conceito de agricultura familiar, eu estudo fora, mas no final de semana estou aí. A propriedade é uma questão de família na verdade, nós optamos por sair, mas não temos nada contra a cooperativa.
2.Como você vê a educação das crianças quanto às questões sociais dentro do movimento? Hoje isso não é bem trabalhado, mas o pessoal que está mais próximo do movimento, na questão da cooperativa, são bem mais próximos da realidade, mas para nós que estamos de fora, é mais difícil.
3.A sua família participa do MST?
Nós temos uma simpatia muito grande pelo movimento, temos bom relacionamento,mas hoje não participamos mais.
4.Como você vê o futuro do movimento?
Na verdade eu acho que enfraqueceu o movimento mas acredito que isso é um ciclo, uma roda que não para, pois outros almejam esse objetivo e virão somar a esse movimento, eu acredito que agora está em recessão aqui nossa região, pois em outras regiões o movimento está mais forte.
5.Qual deveria ser a posição política do MST na sociedade?
Hoje para a sociedade o MST é discriminalizado por quem detém o capital, o latifúndio, mas há uma parte que ainda acredita e o novo censo agropecuário diz que cerca de 75 a 85% dos alimentos no Brasil vem da agricultura familiar, a sustentabilidade está no pequeno.
6.E o governo Lula?
O Lula não fez o que prometeu em campanha, há um conflito muito grande se ele é de esquerda ou de direita, há um consenso que ele é neoliberal hoje. Tem uma simpatia pelo movimento, mas acho que o governo lula deixou muito a questão da reforma agrária. O PT a partir do momento que está no topo, o partido atua, mas ele deve consultar alguém, que não é a massa. Ainda assim é o partido que está mais próximo do movimento, ele tem suas falhas, mas é o partido que está mais próximo da representação do movimento, surgiu muita expectativa que em uma parte foi consolidada e outra não foi, até aqui fomos parceiros a partir disso, ficou o que foi combinado. Uma prova disso foi à questão da reforma agrária que até agora foi bem menor do que em governos anteriores.
7.Você acha que o Lula decepcionou?
Não diria isso, pois seria um termo muito forte, as circunstâncias eram outras, hoje tem a crise, mas acho que deveria ter feito mais. Em 1995 quando teve a ocupação da Fazenda Aliança, foi a primeira ocupação do movimento no Mato Grosso. As pessoas eram vistas naquela época como marginais, era um ato de vandalismo, hoje em dia está mais comum. Eu me criei no assentamento “14 de agosto”, mudei aqui em 1996 (durante o governo Fernando Henrique Cardoso) e você vai tendo contato intensivo com as pessoas. Tem os conflitos de organização mas é muito gratificante em ver a auto-estima das pessoas crescendo. Hoje você ouve falar mal dos assentamentos e você fica revoltado com o preconceito da Rede Globo. Uma coisa é você conhecer, outra é você conhecer o oposto para comparar.
8.Você continua sendo simpático ao movimento, mas até o curso de Agronomia que você está fazendo faz parte desta luta.
Eu faço parte da associação e na medida do possível eu trabalho em função do bem estar do assentamento como um todo, faz parte da luta.
9.Você sabe se o movimento tem algum interesse em mudar a opinião pública?
Eu acho que gostaria, mas não sei se consegue. A mídia muda o hábito das pessoas, os conceitos, entra todo dia na sala das pessoas e as coisas que são repetidas muitas vezes, acabam entrando na mente das pessoas.
10.Quanto ao papel da educação na formação das opiniões das pessoas. A escola de base prepara para este pensamento revolucionário?
Essa educação deixa muito vago as coisas e isso abre brechas para coisas que hoje canalizam, direcionam o que ela escuta em maior quantidade, todo dia, o interesse do capital.
11.Do mesmo jeito que você é filho do Movimento, há filhos de fazendeiros estudando com você.Há preconceito?
No meu caso em particular não posso dizer, eu tenho amigos que são filhos de produtores, outros, de assentados. Não há diferenciação, quando a gente está em roda de conversa, há divergência de opiniões, a gente apimenta, abre discussão, mas o conhecimento deles é globalizado, o que eles vêem na tv, o conhecimento deles é muito superficial.
12. A questão do preconceito é muito interessante. Em todas as cidades deste país, sejam nas grandes cidades ou nas pequenas, há pessoas que vivem em casas alugadas. Ainda pagam a vida inteira para morar em um imóvel que no final, não vai lhes pertencer. Mesmo assim quando se fala do Movimento elas discriminam, julgando as pessoas que lutam pela igualdade, por melhores condições de vida e sobrevivência.
As pessoas têm que acordar e se atualizar para a sua situação. As pessoas querem terra mas não querem passar pelo processo de luta, não querem pegar uma barraca e ir à luta.
13.Você já participou de alguma invasão?
Não, quando houve a invasão para este assentamento eu era muito criança, tinha uns 7 anos.


Agradeço aos meninos por sua valiosa contribuição. Agradeço também a Professora Alair Silveira e aos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra do Estado de Mato Grosso por esta oportunidade.
Com este trabalho espero mostrar àqueles que ainda divergem da opinião do movimento e preferem acreditar na manipulação capitalista preconceituosa que, se não fossem os movimentos sociais, as questões da desigualdade nunca seriam postas em pauta, ou seja, se não fosse o MST a Reforma Agrária não seria sequer discutida.


“No meu governo, o direito à alimentação passou a fazer
parte central da agenda de políticas públicas. Ampliamos
a reforma agrária, o apoio à agricultura familiar, a concessão
de créditos e a assistência técnica à comercialização dos produtos agrícolas.”

Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da 30ª Conferência Regional da FAO para a América Latina e Caribe
Palácio Itamaraty, 16 de abril de 2008.






Fontes:
BRASIL. Constituição Federal, 1988.
http://www.mst.org.br/especiais/
http://www.faonorden.se/fileserver/Discurso_do_presidente_da_Republica.doc
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI137176-EI1774,00.html
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Guerra Fria - o equilíbrio do terror

Vídeo para o Seminário sobre Guerra Fria.

Disciplina: História Política Econômica e Social Contemporânea.

Cuiabá, 06 de Outubro de 2009.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009


Notícias
Vieira de Mello homenageado no Dia Mundial Humanitário
Data foi criada para atrair atenção pública às atividades de assistência humanitária em todo o mundo e homenagear funcionários das Nações Unidas, que tiveram suas vidas ceifadas ou sofreram acidentes enquanto prestavam serviço de ajuda humanitária. 20/08/2009

Sérgio Vieira de Mello

Carlos Araújo e Michelle Alves de Lima, da Rádio ONU em Nova York*.
O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, homenageou o heroísmo dos trabalhadores humanitários que partilham a convicção de que o sofrimento de uma pessoa é responsabilidade de todos.
Ban falou no primeiro Dia Mundial Humanitário, celebrado nesta quarta-feira, dia 19, para chamar a atenção pública para as atividades de assistência humanitária em todo o mundo.
Legado
O Dia Mundial Humanitário foi estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em Dezembro de 2008. A data escolhida, 19 de Agosto, relembra o dia em que o escritório das Nações Unidas em Bagdá, no Iraque, foi atacado.
O incidente ocorreu em 2003 e matou 22 pessoas, entre elas o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que era o chefe da missão da ONU no país.
Ban Ki-moon disse que a ONU continuará a inspirar-se no legado dos que perderam a vida há seis anos.
O Secretário-Geral disse que seis anos após o atentado que matou Sérgio Vieira de Melo e 21 outros colegas, a violência continua no Iraque. Ele manifestou a sua profunda tristeza por uma série de ataques que nesta quarta-feira mataram um grande número de inocentes em Bagdá.
Diplomata
Em entrevista à Rádio ONU, o jornalista João Lins de Albuquerque, que chefiou a Divisão de Língua Portuguesa da Rádio das Nações Unidas até 2005, falou sobre Sérgio Vieira de Mello, que ele conheceu em uma missão no Camboja nos anos 90.
"O Sérgio era um homem preparado para a ONU, era cria da ONU. Às vezes as pessoas dizem 'o diplomata', mas ele não era diplomata, ele era um civil servant das Nações Unidas, que atingiu o mais alto cargo que um brasileiro atingiu na hierarquia das Nações Unidas", disse Albuquerque.
Segundo o Alto Comissariado para Refugiados, Acnur, no último ano, 260 trabalhadores humanitários foram mortos, sequestrados ou seriamente feridos em ataques. Só neste ano, três funcionários da agência foram mortos no Paquistão.
Rádio ONU

Fonte: Periódico Cenário Internacional

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O analfabeto político


Muitos amigos, pertencentes aos mais diversos setores da sociedade, já visitaram o meu blog e o comentário mais corrente que recebo é: "Carla, eu não entendi nada do que você escreveu" ou "Não gosto de política porque não entendo nada."
Começo a discussão citando um dos meus pensadores favoritos, Bertold Brecht:

" O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."

Senhores, não sejamos omissos. É por causa da nossa omissão, do nosso descaso que alguns "representantes do povo"guardam suas parcas economias nas cuecas. É por causa do nosso silêncio que "Suas Excelências" constroem castelos nas montanhas e é por causa dessa aversão aos assuntos políticos que os atos políticos secretos vem sendo votados há décadas, pois veja, esses atos não são uma invenção atual.
Pensem (mas não fiquem deprimidos): quantos segredos haverão por baixo do tapete do Senador?
Está bem, você não quer saber nada disso. Ótimo, então envolva seu braço no ombro amigo e artístico do Senador Suplicy e entoem o clássico "We are the world" em voz baixa e rouca.
Particularmente eu gostaria de cantar outra música com o Senador Supla Bob Pai:
"Na favela, no Senado, sujeira pra todo lado,
ninguém respeita a Consituição..."

Caros Senhores, faço minhas as palavras de Hannah Arendt:
"A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num CAOS ABSOLUTO..."
Portanto, deixemos de lado os preconceitos que nada mais são do que um imobilismo político.
Tendo sido as Leis criadas por uma minoria (a classe economicamente dominante da época) para que valessem para todos, façamos valer a moral e a ética desse país, a partir das ideias e valores da atual classe economicamente dominante que já não são os miseráveis dez por cento mais ricos e sim, a nova cara do Brasil, a classe C, que impede que a economia saia da engrenagem e caia no buraco da recessão econômica americana.
Aos que recebem o cala boca do governo, ora designado "Bolsa-Família", meus sinceros pêsames...
Ô desculpe, Senhor Presidente... é que eu sou ignorante!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Seminário: "Mulheres e o conflito armado no Rio de Janeiro", 03 de agosto de 2009, Auditório do Centro Cultural da UFMT

Seminário proferido pelos professores Dr. José Manuel Pureza e Dra. Tatiana Moura - Universidade de Coimbra/Portugal.
O Seminário sobre o tema supra citado pôde, como já era esperado, fazer aflorar sentimentos que no cotidiano são esquecidos. O medo do futuro, a sensação de insegurança permanente e a certeza da impunidade gerada por um sistema ultrapassado e ineficiente além de muitas vezes, corporativista e corrupto nos faz refletir de uma maneira muito clara a respeito do que fizemos no passado, estamos deixando de fazer agora e o que será do futuro deste país.
É claro que a figura da mulher se faz presente em vários momentos e como não poderia deixar de sê-lo visto que é ela a geradora e mantenedora da harmonia familiar e em muitos casos, a provedora do sustento. E esta figura se faz presente dentro dos eventos que envolvem arma de fogo em várias posições: ora como a mãe da vítima, ora como mãe do réu, a filha, a esposa, a irmã, a avó enfim, a verdade é que de acordo com as pesquisas e estatísticas trazidas pelos Seminaristas, hoje cerca de duzentas e setenta mil pessoas morrem todos os anos assassinados por armas de fogo e esta é uma taxa bem superior no que ocorre em campos de guerra.
Na palestra introdutória ao filme exposto pelo professor da Universidade de Coimbra, Dr. José Manuel Pureza: " Estamos habituados a raciocinar numa lógica dualista, numa dicotomia entre paz e guerra ou colocar essas duas experiências como opostas uma a outra, mas a realidade causa de maneira fortíssima essa dicotomia." E acrescenta: " Há muito mais guerra na paz do que nossos olhos são capazes de enxergar."
Para além de uma violência física, explica, existem situações qualificadas para a paz formal. As violências estruturais são marcadas por profundas injustiças. As pessoas são incapazes de se realizarem de forma plena e há uma violência cultural que passa pela própria forma da linguagem e que também são profundamente violentas no dia-a-dia.
Também é sabido que noventa por cento dos que matam e noventa por cento dos que morrem são homens. Mas também não podemos nos esquecer que as mulheres são "ausentes sociais" desta realidade e o objetivo do estudo dos professores é justamente trazer à superfície este rosto invisível da mulher. Quem é ela? Falando em uma lógica contínua,ou seja, sem essa separação entre paz e guerra, este estudo vai no sentido de chamar à atenção que a violência contra a mulher atinge níveis maiores a situações de pós guerra e que ao lidarmos com conceitos que deturpam a realidade, não conseguimos perceber a verdade.
O que diferencia o Rio de Janeiro de qualquer outra cidade do mundo? Na realidade, nada. A violência ocorre em qualquer cidade do mundo seja ela rica ou pobre, de um país desenvolvido ou de um ainda em subdesenvolvimento. Mas o Rio de Janeiro tornou-se uma referência universal sobre a violência de uma maneira singular, mesmo não sendo única.
Um dado que diferencia a mulher é que ela é vítima em um espaço privado, ou seja, são mortas em sua maioria dentro de casa, enquanto o homem é geralmente assassinado em uma esfera pública. Outra forma da mulher ser vítima é quando a mesma é ameaçada com a arma de fogo. Cerca de trinta e dois por cento das mulheres entrevistadas pelo grupo de estudo disseram que não sabiam que o companheiro tinha uma arma de fogo em casa e esse medo as impedia de pôr fim a essa situação mantendo-as ao lado de um companheiro violento.
Pelo menos três pessoas são mortas diariamente no Rio de Janeiro vítimas de armas de fogo. A sua maioria são jovens, negros e pobres. São mortes evitáveis, mas parece que não há interesse em fazer parar.
A mulher, seja qual for o evento, será sempre a vítima como já foi aqui mencionado. Mas devemos perceber como esses eventos alteram o rumo da vida dessas pessoas. A mulher toma para si a missão que deveria ser do poder público, quando procura investigar a realidade ocorrida, quando pleitea o seu direito à justiça, quando sai em passeata pelas ruas de braços dados a outras tantas que perderam seus filhos da mesma forma e indignadas com a lentidão dos processos buscam apoiar-se umas as outras sem perceberem que argumentando contra essa nossa realidade elas fazem com que possamos encontrar a única resposta para toda essa questão que é uma resposta política, de cunho político e não sectário, não partidário.
É perigoso dizermos que vivemos um estado de guerra no Rio de Janeiro, pois isso poderia legitimar atitudes extremas por parte do poder público, legitimar ações truculentas do braço armado do Estado.
Falamos aqui das mulheres, das mães que levantam a bandeira da justiça ao perderem seus filhos de f0rma tão violenta, mas vale ressaltar o papel do pai também, papel este que surpreendentemente é por muitas vezes, inexistente. Segundo este estudo dos professores já citados, a maioria dos pais (homens) preferem colocar "uma pedra no assunto", preferem esquecer e não entram mais no quarto dos filhos. A maioria dos homens que participaram deste estudo eram padrastos e afirmam que se pais fossem, não suportariam. Vale ressaltar também que a maioria dos casais se divorciam após a morte dos seus filhos nos eventos com armas de fogo.
A explicação? Certamente não temos. Esse seria um caso para a Psicologia, mas a verdade é que as mulheres que há muito deixaram de ser o "sexo frágil" continuarão a sofrer com a violência, o descaso do poder público e a falta do apoio da sociedade que só se solidariza naquele momento, mas depois esquece.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Para as férias...


Eu sei que estamos em férias, mas para que não percamos os pensamentos já adquiridos vai aí uma citação weberiana que você poderá refletir entre um passeio e outro:

"Os cristãos primitivos também sabiam com muita precisão que o mundo é governado pelos demônios e que aquele que se mete em política, ou seja, aquele que admite utilizar o poder e a violência como meios, selou um pacto com o diabo, de tal modo que deixa de ser verdade que em sua atividade o bom produza apenas o bem e o mau o mal, mas que frequentemente acontece o oposto. Quem não vê isso é uma criança, politicamente falando."

Max Weber in "Politik als Beruf".

Vejo vocês dia 03 de agosto na palestra dos professores da Universidade de Coimbra, Portugal sobre "Mulheres e conflito armado no Rio de Janeiro", promovido pelo Departamento de Sociologia e Ciência Política da nossa Universidade Federal.

Bisous!

sábado, 27 de junho de 2009

"Nós pedimos com insistência:
não digam nunca isso é natural!
Diante dos acontecimentos de cada dia
numa época em que reina a confusão,
em que o arbitrário tem a força da lei
em que a humanidade se desumaniza,
não diga nunca: isso é natural!"
F.Brecht

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Etnocentrismo - o olhar antropológico

Etnocentrismo é olhar o outro sem levar em consideração os valores, costumes ou crenças deste que nos parece diferente. É achar que só nós somos os certos, agimos, comemos ou rimos da forma certa. O indivíduo não consegue divisar a diferença que há em outro indivíduo de uma sociedade adversa e logo experimenta sentimentos de medo ou surpresa ou até mesmo hostilidade. Neste choque cultural há espaço para a violência ou barbárie e produz inclusive um sentimento de se sobepor àquela outra sociedade que ele julga inferior ou primitiva.
Uma ideia que se contrapõe ao etnocentrismo é a relativização. Ou seja, quando compreendemos o outro, o "diferente" nos seus próprios valores, quando damos lugar à empatia, quando não fazemos com que essa diferença tenha uma hierarquia julgando o outro como inferior.

Conceito de cultura

O homem ao nascer em determinada sociedade adquire uma cultura continuada ou seja, nunca para de aprender. (e eu tenho que me acostumar a não grafar mais o acento agudo na palavra homógrafa do verbo parar).
Voltando para o assunto: de acordo com Taylor, cultura agrega o "saber, arte, o direito, assim como qualquer uso adquirido pelo homem em sociedade" e, Ruth Benedict fala sobre as "lentes" em seu livro "O crisântemo e a espada". Essas lentes seriam os costumes rígidos ou coletivos usados por indivíduos para verem determinados tipos de coisas e por isso apresentam opiniões díspares uns dos outros.
A cultura também pode interferir no plano biológico. Isto se explica quanto a apatia que certos indivíduos desenvolvem, por exemplo, ao serem removidos bruscamente e de forma violenta de suas sociedades originais e obrigados a viverem em lugares desconhecidos, de cultura diferente, de pessoas fisicamente diferentes. Esta apatia produz um mal físico, biológico, que faz estes indivíduos perecerem.
Outro conceito antropológico de cultura diz respeito ao fato de que os indivíduos participam diferentemente de sua cultura. Nenhum indivíduo consegue participar completamente de todos os aspectos culturais de sua sociedade. Há rituais específicos masculinos e outros femininos.
Assim como é vedado a índia do Xingú participar do ritual da flauta, também é vedado ao homem branco contemporâneo participar de uma festa feminina onde a principal atração são aqueles rapazes do "Clube das Mulheres".
Analogia fútil e estúpida talvez, mas não totalmente sem crédito.
Releve. A cultura é libertadora!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dúvidas cruéis

É a primeira vez que leio “O manifesto do Partido Comunista” e é também a primeira vez que entro em contato com os conceitos marxistas, socialistas, enfim.
Em primeiro lugar o discurso marxista me parece bonito, porém gostaria de vê-lo funcionar e com os resultados que prometem. Acho que tal sociedade não passaria de mera utopia. A impressão que tenho é que os autores desta obra desconsideraram a natureza humana. Esqueceram que cada indivíduo traz em seu cerne, qualidades boas ou más que os diferem uns dos outros.
Lendo o Manifesto comecei a imaginar vários trabalhadores uniformizados, desempenhando atividades uniformemente idênticas, cujas expressões faciais denotam o mesmo olhar, o mesmo respirar, tal como máquinas operando em sincronia total.
Até parece o filme que assistimos de Chaplin “Tempos Modernos”, porém no filme ele se descontrola e se rebela saindo a apertar botões a esmo pela rua, permitindo-se inclusive, a “brincar” com os outros, o que acho não aconteceria no caso de uma sociedade socialista como a supracitada, pois os indivíduos me pareceram tão uniformizados com padrões rígidos de comportamento que não lhes permitiriam sequer tal liberdade.
Lembrou-me também de sociedades fechadas tais como a China Socialista de outrora ou a Coréia do Norte cujas portas estão rigidamente trancadas ao Capitalismo e a qualquer interferência estrangeira aos seus usos e costumes, demonstrando uma xenofobia que encarcera o indivíduo numa estagnação cultural.
Passo a pensar então na Arte e na Cultura. Como se daria a liberdade de expressão de um artista em uma sociedade socialista? A Arte e a Cultura seriam necessariamente controladas pelo Estado que lhe aplicaria sanções, restrições, a censura. Nesta sociedade o artista dança conforme a música do Estado e sua produção artística resume-se a exaltar os feitos do poder. Isto é ditatorial.
É claro que o Capitalismo gera discrepâncias, diferenças sociais profundas, barreiras difíceis de transpor principalmente quando não há vontade política e também vontade individual ou coletiva. Mas não são raros os casos em que indivíduos nascidos em determinada classe ascendem numa estrutura econômica, pessoal e social. Para mim, particularmente, dizer que o Capitalismo é a concentração de renda nas mãos de uma minoria enquanto a maioria perece por falta de condições mínimas de vida é perfeitamente entendido. Porém não há como negar que as pessoas podem sair do buraco da favela aplicando vontade e disposição em sua trajetória particular, através de um único elemento capaz, não só de ajudar tal indivíduo a ascender nesta escala social como também a buscar novas alternativas para a melhoria coletiva. Esse único elemento capaz de transpor barreiras até então difíceis chama-se: Educação.
Isto se comprova em vários casos que podemos até mesmo assistir pela televisão, quando senhoras já com filhos criados e entrando na “melhor idade” são alfabetizadas. Elas dizem: “é como se o mundo se abrisse”. Novas perspectivas, novas possibilidades, novos caminhos que as farão entender o mundo e a enxergar o que antes era cerceado pela sua ignorância. Isto só para citar um simples exemplo sem me ater muito a questão.
Estou confusa com esta questão marxista, socialista, comunista, pois não vejo em sua totalidade elementos que me façam crer que tal regime é o fator que resultaria na igualdade social. E muito menos que seria o melhor caminho para o Brasil. Será por isso que a “Esquerda” não é mais a mesma?
Levando em consideração o contexto histórico em que o “Manifesto do Partido Comunista” e “O Capital” foram escritos, no mundo contemporâneo sua aplicabilidade seria viável? A humanidade (que caminha a passos largos) evoluiu e evolui acomodando-se no Capitalismo de forma a não querer mais profundas transformações em seus modos de vida. O novo é sempre visto com desconfiança.
Num país em que o Bolsa-Família serve de “cala-boca” para os menos (e os mais ou menos) favorecidos, parece-me que os proletários marxistas e ideólogos socialistas descansam nos dormitórios das fábricas aguardando uma faísca que reacenda o ideário esquecido.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bélgica planejava colônia no Brasil-Fábrica em MT foi ponta de lança do projeto, afirma pesquisador

Newsletter Fundação Alexandre de Gusmão

MARCO- Fábrica de derivados de carne que pertenceu a empresa belga, em imagem feita quando propriedade já era de norte-americanos
Barão do Rio Branco foi quem desmontou plano
O oeste brasileiro, que já havia sido disputado por portugueses e espanhóis, despertou a cobiça dos belgas por sua localização estratégica - entre as bacias amazônica e platina, de onde seria possível partir para outras conquistas no continente no futuro. O governo brasileiro demorou a perceber a ameaça. Mas um homem atentou para o perigo: o Barão do Rio Branco, que assumiu o Ministério das Relações Exteriores em 1902.Figura central da diplomacia brasileira, conhecido como o homem que consolidou as fronteiras do País, o Barão, sabe-se agora com as revelações do livro Os Belgas na Fronteira Oeste do Brasil, foi mais importante do que se imaginava. "Achava-se que seu maior feito tinha sido a resolução da questão do Acre, mas agora ficou provado que foi, na verdade, desmontar uma colônia belga no coração do País", ressalta o embaixador Jeronimo Moscardo, presidente da Fundação Alexandre Gusmão, editora da publicação, resultado da tese de doutorado de Domingos Sávio da Cunha Garcia.Não chegou a haver comprometimento das relações Brasil-Bélgica, nem mesmo necessidade de intervenção diplomática, mas a embaixada lá monitorou os avanços dos belgas por aqui. "O Barão teve a exata compreensão dos atores que estavam em jogo, sabia que os interesses eram fortes. Ao desatar a questão do Acre, por tabela desmontou a tática dos belgas", diz a pesquisadora.*R.P
Os pesquisadores que estudam a formação do território brasileiro costumam se dedicar apenas ao período colonial, quando os portugueses trataram de expandir seu domínio para o distante oeste. E, também, ao que se estende da Independência, em 1822, a 1850, fase em que a Coroa se ocupou de manter o que já havia conquistado, sufocando revoltas separatistas nas províncias. Nem mesmo os historiadores sabem, mas bem depois disso, no fim do século 19, um pequeno país europeu tentou estabelecer aqui uma colônia para chamar de sua.Trata-se da Bélgica, reino que já possuía um território na África, o Congo Belga, de propriedade pessoal do rei Leopoldo II (atual República Democrática do Congo). O período em questão é conhecido como a "era dos impérios". Caracteriza-se por uma nova etapa da expansão colonialista dos países desenvolvidos, em busca de matérias-primas de baixo custo e mercados para seus produtos industrializados.As pretensões belgas no Brasil se localizaram no extremo oeste brasileiro, e tiveram como alvo parte da região onde ficam Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Ou seja: bem distante dos olhos do governo federal de então. Tudo começou em 1895, quando a Compagnie des Produits Cibils, sediada na Antuérpia, adquiriu uma fábrica construída por um argentino para produzir derivados de carne, na região de Descalvados (município de Cáceres, MT), fronteira com a Bolívia.Foi o primeiro empreendimento no local e ponto de partida para uma série de iniciativas que tinham como objetivo final repetir aqui a experiência africana. É o que acredita Domingos Sávio da Cunha Garcia, professor do Departamento de História da Universidade de Mato Grosso e autor do livro Os Belgas na Fronteira Oeste do Brasil, que está sendo lançado pela Fundação Alexandre Gusmão, ligada ao Itamaraty."Três anos depois da compra da fábrica, a operação muda de caráter, e começa a expansão para o oeste", explica. "Só em Descalvados, eles compraram mais de 1 milhão de hectares; mais ao sul, 500 mil hectares; ao norte, as concessões de área de extração de borracha chegaram a dois terços do que hoje é o Estado de Rondônia. No total, foram entre 5 e 8 milhões de hectares (o que equivale a 80 mil quilômetros quadrados)."Garcia começou a se dedicar ao assunto nos anos 90. A pesquisa ganhou gás quando ele conheceu, num congresso, o pesquisador belga Eddy Stols, da Universidade de Louvain, especialista em Brasil que também se debruçara sobre o tema. Depois de garimpar documentos, livros, contratos, jornais e relatórios no Arquivo Público de Mato Grosso e no Arquivo histórico do Itamaraty, Garcia chegou à conclusão de que o interesse dos belgas ia muito além da exploração da borracha, da pecuária e da rentável atividade da moderna fábrica de Descalvados. A indústria, hoje em ruínas, produzia extrato de carne bovina e derivados exportados para o mercado europeu.Prova disso foi a despropositada solicitação, feita em 1897, de instalação de um consulado da Bélgica em Descalvados (havia representações no Rio e em São Paulo) - uma forma de resguardar seus interesses por lá. O pedido foi negado pelo Brasil, mas um vice-consulado acabou sendo aberto. Enquanto isso, toda a área era devidamente guardada por militares belgas que atuaram no Congo.ACREOutra comprovação das intenções colonialistas é o súbito desinteresse pela região quando se resolveu a disputa pelo território do Acre, contíguo a Rondônia, entre brasileiros e bolivianos. As terras pertenciam originalmente à Bolívia, mas eram ocupadas por seringueiros do Brasil. Estavam arrendadas a grupos norte-americanos, organizados num sindicato.Mas, mediante pagamento de indenização e graças ao recuo dos EUA quanto à possível criação de uma colônia sua no lugar, o que chegou a ser oferecido pelo governo boliviano, acabaram sendo anexadas ao território brasileiro. Àquela altura, os americanos decidiam que a América Latina seria, sim, sua área de influência exclusiva, mas não com aquisição territorial.Tão logo a questão acreana se resolveu, em 1903, os belgas começaram a se desmobilizar e deixar o oeste brasileiro. Haviam percebido que levar seu plano adiante seria muito mais difícil do que pensavam. Isso aconteceu já em 1904, a despeito dos lucros com as exportações dos produtos da fábrica. "Na questão do Acre, foi como se os EUA dissessem: ?Aqui ninguém tasca?. Os belgas rapidamente recuaram", diz o professor.O tema não pautou as pesquisas dos historiadores brasileiros talvez por conta da ideia cristalizada de que a integridade territorial não correu riscos na segunda metade do século 19 e nos primeiros anos do século seguinte. Como nenhuma ameaça se concretizou e não houve perdas de terras, é como se nada tivesse acontecido. Mas o livro lembra que não foram só os belgas que sonharam ser donos de um pedacinho do Brasil - vide a invasão inglesa da Ilha da Trindade (1895-1896), no litoral do Sudeste, e a disputa com a França pelo Amapá (que só foi resolvida no século 20).


Fonte: O Estado de São PauloCrédito: Roberta Pennafort

O que é política?

A política segundo a concepção de Hannah Arendt, objeto de estudo nas aulas de Ciências Políticas da Professora Ghisolfi, seria a arte das relações entre os indivíduos ou a compreensão da liberdade do outro.
A política baseia-se na pluralidade dos homens; também não provém de Deus, pois é uma criação do homem, portanto mundana.
A política trata da convivência entre os diferentes.
Segundo a Autora: "A ruína da política em ambos os lados surge do desenvolvimento de corpos políticos a partir da família." (pág.22)
Por que Arendt usa o conceito de família para exemplificar a política? Primeiro que isso é uma concepção marxista, uma noção de propriedade. Depois, Arendt usa a família para exemplificar que a partir de um conceito de homogenização de valores, de modos de vida, é o homem criando outro ser a sua semelhança. Daí que a política trata de diversidades, sua ruína.
O homem é a-político, ou seja, nasce totalmente fora dos homens, não é de sua essência. A política nasce da convivência entre os homens. Estabelecemos relações políticas com os quais estabelecemos igualdade.
Preconceito da política: os preconceitos contra a política não são juízos definitivos. Chegamos a uma situação com a qual não sabemos lidar, ainda não, pelo menos, é um imobilismo político.
Esses preconceitos são vários e não dizem respeito apenas à técnica de um Estado autoritário.
A política é o poder e o poder corrompe.
O sentido da Política é a liberdade para poder agir ou ser um agente político. As pessoas atribuem o poder ao Estado. Esses preconceitos não são juízos definitivos. As pessoas precisam superar os preconceitos e imobilismos e começar a agir.
Superar o preconceito significa liberdade de ação efetiva.

domingo, 3 de maio de 2009

Considerações sobre Maquiavel e o Príncipe



Antes de considerarmos o estudo sobre Maquiavel e sua obra prima "O Príncipe", veremos como seu pensamento se enquadra dentro do contexto histórico que permeia a época de uma Itália magnífica, porém dividida em vários Principados e regimes políticos diversos, além de uma gama diferenciada de cultura e desenvolvimentos econômicos díspares.
Maquiavel queria para a sua Itália, não uma nação utópica, pois que este Autor Florentino primava a verdade efetiva das coisas, ou seja, a verdade concreta das coisas, como elas são e não como deveriam ser. Esta era a sua Metodologia: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como gostaria que fosse.
Rousseau em "Do Contrato Social" explica que "Maquiavel fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições para o povo", pois que Maquiavel discorreu sobre a liberdade (ou como ele chamava a República) quando ofereceu conselhos para a sua conquista e salvaguarda.
Maquiavel ensina que devido ser a natureza humana movida pelas paixões, a história da humanidade tornou-se cíclica, repetindo-se continuamente entre a ordem, a desordem e a necessidade de uma nova forma de estabilidade.
O objetivo de sua análise política é tentar descobrir como resolver o inevitável ciclo de estabilidade e caos. O objetivo da ordem é evitar o caos e a barbárie, mas uma vez alcançada deve-se entender que ela não será assim para sempre pois a ameaça de se retornar o caos estará sempre presente.
"A ordem sucede à desordem e esta por sua vez, clama por uma nova ordem."(ver "O Príncipe" pág. 20)
"O Príncipe", obra inaugural do conhecido 'realismo político' fez de Maquiavel o pai das Ciências Políticas. Maquiavel separa a política de Deus. Para ele, a política é uma ação humana e não um dogma religioso ou não provém de Deus. Para tanto busca elementos concretos ou seja, o governante deve ter conhecimento do passado para governar o presente, isto é uma concepção de história.
Algumas características do modo de escrever de Maquiavel devem ser consideradas:
"... a longa experiência...", descrita na página 11, diz exatamente este conceito de conhecimento histórico.
"... a Vossa Humanidade...", usado quando se dirige ao Príncipe, ele apela para o caráter humano do governante.
"... não usei palavras pomposas...", característica de Maquiavel, alguns consideram Maquiavel como aquele que deu dicas aos governantes que gozem de Legitimidade (estabilidade, harmonia), outros estudiosos dizem que por Maquiavel ter uma linguagem simples teria escrito para o povo, para entender quando o governante os ludibriar.
"... origem humilde e baixa condição..." pág.12: coloca-se no mesmo nível do povo.

Virtù, Fortuna e Força

A virtù é um conjunto de qualidades que permitem a um príncipe aliar-se a fortuna e conseguir a honra e a glória, qualidades estas que o Príncipe tem que ter ou fingir que tem. Essas qualidades seriam: capacidade de compreensão, sapienza (sabedoria), jogo de cintura, conhecimento histórico e conhecimento de armas (saber as técnicas de guerra e ir para o campo de batalha). O Príncipe de virtù deve ter a percepção dos problemas futuros da humanidade.
A fortuna é a SORTE, o acaso, o curso da história, o destino cego. Não confunda a fortuna com bens materiais, dinheiro, etc. é extramente equivocada tal designação. Um príncipe de virtù sabe manter as graças da fortuna ao seu lado, fazendo com que a sorte conspire a seu favor.
Quanto a força, Maquiavel diz que o homem é por sua natureza mau, invejoso, covarde, vil e não confiável. Não é a favor do uso da força em qualquer ocasião, (prefere a inteligência da raposa à força do leão) mas não a descarta totalmente, aliás Maquiavel diz que "se for necessário faça bem feito e de uma só vez."
Com todos seus conselhos Maquiavel buscava a unificação de uma Itália dividida e morreu sem ter visto seu sonho realizado. Sua vida foi marcada por intensos altos e baixos, tal qual sua teoria sobre a história cíclica da humanidade.
A seguir uma análise capítulo por capítulo de " O Príncipe."

sábado, 2 de maio de 2009

Seminário sobre Crise Econômica e Política - UFMT

Crise Econômica ou crise política – Marcio Porchman


De acordo com Marcio Porchman esta crise econômica atual pode ser Sistêmica ou Estrutural. Sistêmica porque se iniciou nos USA e contaminou a economia real (setor produtivo), resultando também em efeitos políticos.
Essa é a primeira crise do capital globalizado. A primeira crise da história deu-se em 1929 (ainda nas colônias) e a segunda em 1963. Esta última foi uma crise no mundo socialista.
Quanto a natureza da crise ser estrutural, coloca-se em xeque as estruturas de funcionamento da economia der mercado: crédito, padrão de financiamento (bancos e empresas financeiras operadoras de papéis), fundados em bancos públicos; padrão de produção de consumo (insustentável ambientalmente); profunda desgovernança do mundo (não há mais intervenção de instituições como a ONU, por exemplo). O G20 é o único grupo que ainda se interessa pelos debates no setor econômico; quadro de degradação e perda de hegemonia, causando uma complexidade de efeitos; criaram um consumo sem renda, o que vai exigir uma solução complexa na direção política.
Quais são os mecanismos de transmissão da crise para o Brasil?
¨Crédito Internacional: crédito operado no Brasil depende de recursos internacionais. A crise do crédito afetou, por exemplo, a comercialização dos veículos, que eram financiados pelos bancos das montadoras profissionais.
¨Componente do comércio externo: redução do comércio internacional que deve ser sete por cento menor que o ano passado
¨Decisões das grandes corporações que operam no Brasil: são feitas subordinadas às empresas-matriz situadas nos países em recessão, como USA e Japão.
¨Reações: dos governos Federal, Estaduais etc e da sociedade civil.
O Brasil terminou identificando o retrocesso dos neoliberais que era conseqüência do nosso atraso passou a ser nossa salvação as Instituições Públicas como Banco do Brasil, BNDES tornaram-se instituições fortes que estão suportando nossa crise.
Há um possível quadro recessivo em 2009. Dificilmente esse quadro será revertido caso não haja luta social e a construção de uma “nova maioria”.
Quais rumos tomar? ¨Padrão civilizatório: elevar o bem estar da sociedade rompendo com a apatia. Reconhecer que os quadros econômicos são imateriais (menos dependente da agricultura e indústria que produzem algo quantificável).Esse padrão civilizatório exige uma nova atitude, o estudo para a vida toda e não mais a educação para o trabalho, a perspectiva da rebeldia transformadora.

Dissertativa sobre texto de Norbert Elias

A Sociedade como um todo
Dissertado por: Carla Alexsandra


A Sociedade é, como a vemos e a sentimos, o conjunto de indivíduos que vivem, trabalham, comem, dormem etc, segundo o mesmo padrão cultural inerente àquela região ou país. E penso que, quanto mais distantes uma sociedade da outra, em termos geográficos, também diferentes serão as culturas que esses indivíduos organizarão. Como exemplo, podemos citar sociedades como a chinesa e a brasileira, e por terem dimensões continentais também apresentam dentro de si, diversidades regionais culturais.
Ao procurarmos a palavra “sociedade” no Dicionário Aurélio receberemos como resposta que “... são indivíduos que vivem por vontade própria sob normas comuns e que são unidos pelo sentimento de consciência do grupo...”.
O emprego da palavra “unidos” no verbete do dicionário nos remete ao exemplo de Aristóteles citado por Norbert Elias em sua obra “A Sociedade dos Indivíduos” onde o Autor discorre a analogia entre a casa de pedras e a sociedade dos indivíduos. Da mesma forma que os indivíduos estão unidos para formar a sociedade (e sem essa união a sociedade não existiria), as pedras coalescidas formam uma casa e não teria significado algum caso soltas estivessem.
Norbert Elias também cita a sociedade como “um complexo funcional de estrutura bem definida” onde todos nós nos movemos nessa grande teia, cada qual com suas funções específicas. Ainda que a maioria de nós não se conheça, ainda assim estaremos assumindo tais funções, trabalhando diariamente pelo bem-estar dos outros ou para que cumpram também suas atividades diárias, a fim de eliminarmos a inércia e fazermos com que tenhamos uma ligação uns com os outros.
Outro ensinamento importante no texto de Elias é no tocante aos mitos científicos da origem. Partindo do mito da criação (Bíblico) com a origem da humanidade a partir de Adão, passamos a refletir sobre a possibilidade de não existir nada ou ninguém antes dele, adulto simplesmente já pré-concebido, sem um começo, uma infância.
Mas como teria sobrevivido sem a orientação de um grupo de pessoas que teriam vindo antes dele e teriam, na história primeva, concebido um modo de ser, uma língua comum no convívio natural?
Há, na leitura antiga ou na contemporânea, exemplos ainda que infantis, de se pensar como se faria o indivíduo sem o convívio com seus iguais. Vejamos a história de Mogly, o menino-lobo ou George, o Rei da Floresta. Histórias lúdicas que nos remetem a reflexão de indivíduos humanos, que ao serem criados longe de seus iguais e em uma floresta, tornaram-se tal qual o elemento que os criou: no primeiro caso, lobos e no segundo, macacos. E a partir daí começam a agir como lobo e macaco, com os mesmos modos de ser, comer, dormir, grunhindo e gesticulando como animais que pensam que são. É o animal humano semi-selvagem citado no texto.
O indivíduo se torna complexo e adulto quando, criado em sociedade por seus iguais, recebe daqueles que o antecederam todos os ensinamentos, as regras de convívio e respeito e transforma-se em um ser humano adulto, capaz de agir e falar de forma articulada e integrando a teia de indivíduos que formam a sua sociedade.
O indivíduo nasce, portanto, inserido em uma rede de pessoas que o antecederam e lá se torna parte, contribuindo para que esta rede cresça e se movimente. O controle de seus instintos, traços de seu caráter e personalidade serão moldados neste meio. Passará a tratar-se como “nós” e não mais como simples indivíduo “eu”, agindo e reagindo em suas relações interpessoais nas possibilidades que a cadeia humana oferece. Isto significa o respeito aos limites impostos pela própria sociedade, observando as regras que foram criadas para realizar as ações de todos: “ A atividade individual de alguns é o limite social de outros”.(ver págs: 51-52).
Por fim, é inegável que indivíduos isolados tenham na crença popular um valor inestimável pela sua contribuição na história da própria humanidade, mas não devemos esquecer que esses indivíduos não agiram sem qualquer experiência. O meio em que tais indivíduos se criaram e se fortaleceram fazendo com que mudassem o rumo de sua sociedade ou de todo o planeta foi de crucial importância para fazer com que se tornassem grandes personalidades. Como diz o texto: “A crença no poder ilimitado de indivíduos isolados sobre o curso da história constitui um raciocínio veleitário”.Isto significa que é leviana ou fantasiosa a crença de que grandes pensadores como os próprios Aristóteles, Marx, Maquiavel ou qualquer outro que conhecemos, tenham se criado por eles mesmos. É claro que se tornaram um produto do seu meio. Sem o convívio com suas sociedades, sem interagir neste meio, não desenvolveriam o pensamento crítico e ou analítico de suas épocas e conseqüentemente não se tornariam às pessoas que foram.
Acredito que as sociedades nasçam das vontades de grupos de pessoas que se uniram por afinidades e permitiram ser, simplesmente por ser uma sociedade, a união de todos.

Relatório 1 de Sociologia

A Sociedade dos Indivíduos - Norbert Elias


Aula 1: Relatora Carla Alexsandra
Debate Central: A antinomia conceitual de Sociedade
Relação dos tópicos da discussão em sala de aula

Tese do Autor: o indivíduo se estabelece dentro de uma rede, uma ordem social. Essa rede está ligada por uma função de cada indivíduo, trazendo uma estrutura.

§Duas correntes de pensamento: indivíduo em si
conjunto (todo)

¨Quando pensamos em sociedade, logo nos vem a idéia da soma dos indivíduos, numa posição teórica-social. Por que vivemos em grupo? O que constitui o conjunto? Seria a sociedade o conjunto de indivíduos que pertencem a um determinado seguimento, como religioso ou institucional, ou por interesse ou afinidades, por exemplo?
¨Todos os indivíduos com suas peculiaridades vivem em conjunto e criam a figura do Estado. Formam um conjunto e nele se estabelecem.
¨Há uma racionalidade na associação de indivíduos, que percebendo suas necessidades, criam um conjunto de instituições para “enfrentar” as regras de convivência em grupo e o mundo adverso.
¨Quando falamos em Teoria Liberal (Liberalismo) qual é a pressuposição? É a máxima da liberalidade. Dentro da Teoria Liberal o homem é livre, ou seja, tem o direito de fazer tudo o que for de sua vontade. Isto estaria na base de um caráter inato (que pertence à natureza de um ser, nasce com ele).
¨Se nós indivíduos vamos nos agregar em torno de uma racionalidade para suprir nossas necessidades, como alocar recursos para isso? O homem é diferente dos outros animais, pois nós aprendemos, temos que aprender para poder sobreviver.
¨Quem define as instituições são os indivíduos mais fortes.
¨Somos seres sociais e buscamos a máxima felicidade.
¨Nascemos e somos determinados conforme a sociedade nos define.
¨A sociedade é um conjunto de indivíduos ou o todo? Como se forma o conjunto?
¨Tese do Autor: possibilidades.
¨O que é realidade concreta? Estabelece-se de diferentes formas em cada lado. Ela assume formas diferentes em cada uma das possibilidades. A tese do Autor irá superar essa dicotomia, pois ele entende isso de forma diferente. Ele constrói e logo em seguida destrói seu pensamento assumindo um outro contexto, ou em outras palavras, busca cada elemento de suas concepções para destruir em seguida.
¨Como pensar a sociedade supra (acima) dos indivíduos? Pensamos que os indivíduos se agrupam por afinidades. Lembramos do exemplo da casa de pedra ou das peças do relógio. Além das peças, o que é necessário para se formar o relógio? O mecanismo, a estrutura. “A idéia de não existir sociedade, mas uma porção de indivíduos, nos diz o mesmo que na realidade, não existem casas, mas apenas uma porção de tijolos isolados, um monte de pedras.” (pág.20)
¨O indivíduo é o eu. Se analisarmos o eu de cada indivíduo neste microcosmo (resumo deste universo) de nossa sala de aula verificaremos que há um contexto histórico na origem familiar de cada um destes indivíduos. Ficaremos presos a este eu se nos atermos apenas nas possibilidades de cada um.
¨Na metade do século XX pensadores buscaram superar esta dicotomia (divisão lógica de um conceito em outros dois) de pensarmos as coisas em separado.
¨Em que momento deixamos de ser natureza e nos tornamos uma sociedade?
¨Seria somente indivíduo aquele que nasceu primeiro? Os que vieram depois formaram uma sociedade? Norbert explica pelos Mitos Científicos da Origem (ver página 26). O indivíduo sozinho não é sociedade, pois não estabelece uma relação. (Como exemplo ilustrativo Robson Crusoé). Os nativos da Polinésia têm a “Ciência do Concreto”. E teriam uma atitude diferente em comparação com um nativo inglês por exemplo, caso um de seus indivíduos se vissem na situação de náufrago.
¨Outro exemplo sugerido em sala: a existência de castas na sociedade indiana. A questão: podemos trabalhar com a possibilidade de ascensão social neste tipo de sociedade? Não.
¨Foi levantada a questão da possibilidade de elevação social caso haja uma formação escolar de qualidade para o indivíduo em uma determinada sociedade “livre” de conceitos ou tradições como a Indiana. A partir do século XIX é que se vai elaborar a proposta da Escola Pública onde todos têm o direito ao ensino. Antes este direito pertencia somente à Elite, pois era um privilégio.
¨Por fim, não existe sociedade sem indivíduos. Não existem indivíduos que não estejam em sociedade.



Bibliografia de apoio: Dicionário Aurélio