terça-feira, 26 de maio de 2009

Dúvidas cruéis

É a primeira vez que leio “O manifesto do Partido Comunista” e é também a primeira vez que entro em contato com os conceitos marxistas, socialistas, enfim.
Em primeiro lugar o discurso marxista me parece bonito, porém gostaria de vê-lo funcionar e com os resultados que prometem. Acho que tal sociedade não passaria de mera utopia. A impressão que tenho é que os autores desta obra desconsideraram a natureza humana. Esqueceram que cada indivíduo traz em seu cerne, qualidades boas ou más que os diferem uns dos outros.
Lendo o Manifesto comecei a imaginar vários trabalhadores uniformizados, desempenhando atividades uniformemente idênticas, cujas expressões faciais denotam o mesmo olhar, o mesmo respirar, tal como máquinas operando em sincronia total.
Até parece o filme que assistimos de Chaplin “Tempos Modernos”, porém no filme ele se descontrola e se rebela saindo a apertar botões a esmo pela rua, permitindo-se inclusive, a “brincar” com os outros, o que acho não aconteceria no caso de uma sociedade socialista como a supracitada, pois os indivíduos me pareceram tão uniformizados com padrões rígidos de comportamento que não lhes permitiriam sequer tal liberdade.
Lembrou-me também de sociedades fechadas tais como a China Socialista de outrora ou a Coréia do Norte cujas portas estão rigidamente trancadas ao Capitalismo e a qualquer interferência estrangeira aos seus usos e costumes, demonstrando uma xenofobia que encarcera o indivíduo numa estagnação cultural.
Passo a pensar então na Arte e na Cultura. Como se daria a liberdade de expressão de um artista em uma sociedade socialista? A Arte e a Cultura seriam necessariamente controladas pelo Estado que lhe aplicaria sanções, restrições, a censura. Nesta sociedade o artista dança conforme a música do Estado e sua produção artística resume-se a exaltar os feitos do poder. Isto é ditatorial.
É claro que o Capitalismo gera discrepâncias, diferenças sociais profundas, barreiras difíceis de transpor principalmente quando não há vontade política e também vontade individual ou coletiva. Mas não são raros os casos em que indivíduos nascidos em determinada classe ascendem numa estrutura econômica, pessoal e social. Para mim, particularmente, dizer que o Capitalismo é a concentração de renda nas mãos de uma minoria enquanto a maioria perece por falta de condições mínimas de vida é perfeitamente entendido. Porém não há como negar que as pessoas podem sair do buraco da favela aplicando vontade e disposição em sua trajetória particular, através de um único elemento capaz, não só de ajudar tal indivíduo a ascender nesta escala social como também a buscar novas alternativas para a melhoria coletiva. Esse único elemento capaz de transpor barreiras até então difíceis chama-se: Educação.
Isto se comprova em vários casos que podemos até mesmo assistir pela televisão, quando senhoras já com filhos criados e entrando na “melhor idade” são alfabetizadas. Elas dizem: “é como se o mundo se abrisse”. Novas perspectivas, novas possibilidades, novos caminhos que as farão entender o mundo e a enxergar o que antes era cerceado pela sua ignorância. Isto só para citar um simples exemplo sem me ater muito a questão.
Estou confusa com esta questão marxista, socialista, comunista, pois não vejo em sua totalidade elementos que me façam crer que tal regime é o fator que resultaria na igualdade social. E muito menos que seria o melhor caminho para o Brasil. Será por isso que a “Esquerda” não é mais a mesma?
Levando em consideração o contexto histórico em que o “Manifesto do Partido Comunista” e “O Capital” foram escritos, no mundo contemporâneo sua aplicabilidade seria viável? A humanidade (que caminha a passos largos) evoluiu e evolui acomodando-se no Capitalismo de forma a não querer mais profundas transformações em seus modos de vida. O novo é sempre visto com desconfiança.
Num país em que o Bolsa-Família serve de “cala-boca” para os menos (e os mais ou menos) favorecidos, parece-me que os proletários marxistas e ideólogos socialistas descansam nos dormitórios das fábricas aguardando uma faísca que reacenda o ideário esquecido.

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