segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sem preconceito. Perfil da Presidente da ABEME no Estadão.


Apresento para vocês mais um exemplo da força e da coragem da mulher. Um grande abraço a todas!!!


"Acessórios eróticos seriam excomungados tempos atrás. Hoje, já não causam tanto furor. Prova disso é que o tema é explorado em filmes e novelas. Em cartaz no cinema, por exemplo, há a comédia De Pernas pro Ar, estrelada por Ingrid Guimarães e que alcançou a marca de 1,750 milhão de ingressos vendidos. A atriz encarna uma proprietária de sex shop que se mete em várias trapalhadas com vibradores. A sequência do longa já está garantida. Em Passione, a personagem de Gabriela Duarte, a fogosa Jéssica, era consumidora cativa de fantasias sensuais, com direito até a chicotinho – tudo para estimular o marido Berilo, interpretado por Bruno Gagliasso. “O preconceito está se dissipando, porém falta muito para que as pessoas encarem esse assunto com tranquilidade”, atesta a publicitária Paula Aguiar, que assumiu em setembro a presidência da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), se tornando a primeira mulher a conquistar tal cadeira. Ela lembra bem das pedras no caminho no início da expansão do mercado erótico, ramo em que trabalha há mais de 10 anos: – Ninguém queria o nome vinculado a produtos de sex shop. Faltava profissional para fotografar acessórios, designer de internet para elaborar os sites de venda e até provedor não aceitava hospedar lojas virtuais com esse perfil. Como nem modelos topavam posar com fantasias sensuais para divulgar a roupa, o jeito era escolher uma garota de programa bonitinha na Rua Augusta. De lá para cá, muita coisa mudou. As mulheres se tornaram as principais consumidoras dos sex shops e passaram a representar 70% das vendas. No comércio eletrônico, elas são pouco mais do que os homens – 51%. Nas butiques de lingeries sensuais, onde os acessórios picantes ficam num espaço reservado e discreto, a frequência feminina é maioria absoluta. Aos 43 anos, a publicitária, casada e com dois filhos moços, virou referência no setor. Está à frente de diversos estudos sobre consumo e tendência, além de um disputado seminário sobre empreendedorismo realizado na Erotika Fair – feira que acontece em abril e outubro, em São Paulo, e que oferece também atrações e vendas de produtos ao público em geral. Comédia. No cinema, Ingrid Guimarães é dona de um sex shop Novidades. Quem a vê de camiseta, bermuda e chinelo em Itanhaém, litoral sul, cuidando do almoço com a empregada, não imagina sua ligação com o mercado erótico. Ao falar sobre as novidades do setor, destaca o we-vibe: um vibrador anatômico que promete estimular ao mesmo tempo o clitóris e o ponto G, e pode ser usado também na relação sexual. “Os brinquedos para casal são a tendência.” Paula entrou para o setor por acaso, no final dos anos 90, e conta que, antes de se acostumar com o arsenal erótico, cogitou abandonar o trabalho. “Meu lado conservador não aceitava esse mundo.” Fera em informática e comércio eletrônico, ela atuava como gerente de um provedor de internet e professora voluntária de computação numa entidade filantrópica para idosos e pessoas carentes. Um dia, um senhor a procurou. Queria dar de presente à namorada uma loja virtual de produtos eróticos e precisava de alguém para desenvolver o site. Durante a proposta, o visitante incauto abriu uma maleta repleta de acessórios eróticos. Pasmada e constrangida, Paula o fez fechar a maleta rapidamente e o despachou ao marido, que é analista de sistemas e assumiria a tarefa. Nem por isso se livrou dos produtos. A pedido do marido, ela dava seus pitacos na criação da página virtual. A sua principal recomendação: não colocar imagens pornográficas no site, um costume da época. “Achava grosseiro e desnecessário”, conta. “Sempre acreditei, como mulher, que mais importante do que as cenas de sexo explícito é investir na fantasia, no sensual.” Surgiram novos trabalhos e Paula acabou aceitando o emprego numa distribuidora de produtos eróticos. Ficou sob sua batuta a organização e o gerenciamento de todo o comércio eletrônico. Para conseguir lidar com mais leveza com o mercado erótico, a novata decidiu encontrar o lado “positivo” na infinidade de invencionices do setor. Voltou-se às lojistas e às histórias que contavam. Descobriu casos de clientes felizes da vida porque salvaram o casamento ou fizeram o marido largar de amante ao incluir acessórios eróticos na relação a dois. “Comecei a orientar vendedoras a trabalhar positivamente os produtos, mostrando como usufruí-los entre casal para apimentar a relação, independentemente da opção sexual.” Também se arriscou como empresária. Com uma sócia, fabricou pétalas perfumadas, incensos e lançou uma linha de lingeries sensuais. Teve, ainda, uma revendedora de produtos eróticos porta a porta, tal como no filme De Pernas pro Ar. Chegou a trabalhar com 3 mil mulheres, mas não teve fôlego financeiro e o negócio minguou. Paula descobriu que administrar burocracia não é sua praia. “Valeu a experiência porque aprendi muito.” A partir daí, passou a pesquisar o setor. Lançou a A.T.E.N.A.S, agência de notícias e estratégia para negócios do ramo. Os números estão na ponta da língua. Perfil nacional. A consumidora brasileira, por exemplo, compra em primeiro lugar os cosméticos sensuais, que são óleos de massagens, excitantes e géis comestíveis. Desses, estão no topo os produtos para sexo oral e o sabor campeão é o de morango. As brazucas têm perfil bem diferente das norte-americanas. Enquanto as gringas pensam no próprio prazer e investem principalmente em vibradores, as brasileiras querem melhorar sua performance e dar mais prazer ao parceiro. “É cultural”, diz Paula. “Temos essa necessidade de agradar ao homem em primeiro lugar.” Lingeries provocantes e fantasias também fazem parte dessa peculiaridade. Com a bagagem que adquiriu, Paula lançou, numa tacada só, seis livros: dois volumes do SexShop.com – Guia de Negócios, e quatro pequenos manuais que ensinam a usar e usufruir melhor os tipos de vibradores mais vendidos no País: o rabbit, o realístico, o personal e o bullet. Alguns exemplares ainda estão à venda em sex shops virtuais. Dar mais visibilidade ao segmento e encabeçar sua regulamentação são, portanto, seus objetivos na Abeme. Neste semestre, promete fundar a primeira sede da associação em São Paulo, oferecer cursos e criar um departamento de auxílio ao consumidor. Não ganhará nada pois sua função não é remunerada. Sua renda principal, aliás, não vem do setor. Autônoma, ganha criando sites e campanhas com o marido. “Só posso viver assim porque ele é um grande programador e dá tranquilidade financeira”, confessa. “Mas espero poder me dedicar exclusivamente ao mercado erótico no futuro.” E já faz planos de voltar a morar na capital."

FONTE: http://abeme.com.br/2011/sem-preconceito-perfil-da-presidente-da-abeme-no-estadao/

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